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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Ciclofaixa em Moema: Entrevista com Lygia Horta e André Pasqualini


Por volta das 11 horas, Milton Jung entrevistou na Rádio CBN São Paulo 90,5 FM André Pasqualini, presidente da CicloBR e Lygia Veras de Freitas Horta, presidente da AMAM - Associação dos Moradores e Amigos de Moema sobre a possível implantação de faixas compartilhadas para ônibus e bicicletas em ruas do bairro de Moema, aqui em São Paulo.


Segundo André, a proposta da CicloBR em conjunto com o CET seria criar um sistema de normas para a implantação de uma ciclofaixa em determinadas ruas de Moema, ciclofaixa (e não ciclovia) com partilhada com os ônibus coletivos que passam pela região. Moema teria sido escolhida porque há algum tempo foram retiradas as vagas de estacionamento da rua, e seria interessante ver esse espaço usado de uma forma mais democrática, favorecendo ciclistas e o transporte público coletivo em vez de simplesmente aumentar a pista de rodagem dos veículos particulares. André disse ainda que onde as pessoas irão estacionar seus carros é um problema de quem compra seus carros, o que não poderia onerar o Estado. Além disso, usar a rua para estacionar carros seria usar do bem público para resolver problemas particulares, o que seria errado na sua visão.

Dona Lygia disse que por ser novo, o assunto não foi levado ainda para a pauta da associação a qual pertence. Ela acabou dizendo que se estacionar carros não é um problema de ciclistas, uma ciclovia também não deveria ser problema dos moradores de Moema. Segundo ela, não é assim que deveria funcionar. Ela chamou atenção para o fato de o bairro ter sido criado por volta de 1915 e que por isso as ruas são estreitas e não foram projetadas para excesso de trânsito e nem ciclovias. Alegou que por serem estreitas, tais vias não comportariam a retirada de dois metros para privilegiar ciclistas que "passeiam" pelo bairro ou que vem de outros bairro a caminho do Parque do Ibirapuera.

Milton Jung então pergunta para o André como se daria a redução da via pública. O presidente da CicloBR ressalta que a rua é para a circulação de pessoas, seja de ônibus, de carro, bicicleta ou a pé, mas que hoje se faria necessário privilegiar os meios de transporte mais eficientes. Diz que o que foi proposto é uma normatização de uma situação que já existiria. Sendo assim, a via de 12 metros teria um corredor de 4 metros, e dentro destes, 2 metros seriam uma faixa de compartilhamento entre ônibus e bicicleta. Chama a atenção ainda que isso já aconteceria na prática: ciclistas já dividiriam a rua com carros e ônibus, bastando apenas normatizar para que haja mais segurança no local. Nesta realidade, a velocidade de circulação dos ônibus cairia para 30km/h, não para aumentar o tempo de viagem, mas por questões de segurança. O espaço compartilhado serviria para que houvesse mais segurança nas ultrapassagens entre ônibus e bicicletas, por exemplo.

Dona Lygia continua reclamando que isso diminui o espaço dos carros, que (ao que parece) é o meio de transporte mais importante para os moradores e comerciantes da região (o que aparenta é que a presidenta da AMAM acha que os veículos particulares deve ser privilegiado em detrimento dos demais). Neste momento, Milton pergunta se não seria melhor privilegiar o transporte público. Dona Lígia diz que a ciclofaixa retiraria espaço de todos, dos ônibus e dos carros. Ela então chama a atenção novamente para a diminuição das vagas gratuitas de estacionamento, que foram reduzidas de uma forma "absurda". Disse que o comércio teria sido extremamente atingido por tal ação, porque os clientes não tem mais onde parar. André rebate e diz que o comércio foi privilegiado, pois antes existiam vagas gratuitas que eram ocupadas o dia todo, mas que agora, por "incentivo" da Zona Azul, as vagas restantes são melhor utilizadas, pois a uma espécie de rodízio entre os usuários das vagas, aumentando o fluxo de cliente.

É aí que Dona Lygia diz que os dados ditos pelo "senhor André são mentirosos, que nenhum comerciante da região está feliz com a situação, e que muitos estariam até desesperados, fechando suas portas.
Milton pergunta então porque, no ponto de vista de Dona Lygia, a bicicleta prejudica a região. Ela diz que não é a bicicleta que atrapalha. Diz que a associação do bairro lutou para que o Parque das Bicicletas fosse feito, que os filhos dela andam de bicicleta nos parques, ms que as bicicletas deveriam ficar no lugar destinadas a elas, ao lazer.

André Pasqualini diz então que 70% das bicicletas de SP serviriam para transporte, e não para lazer. Diz que muitos resistem porque acham que a bicicleta não teria o direito de andar na rua.

Dona Lygia diz que não achava que a bicicleta deveria ser proibida de andar na rua, contudo, ela teria que rodar sem interferir nos outros meios de transporte.

André Pasqualini chama a atenção para o fato de que o projeto ainda estaria em fase de estudos e que estariam definindo o que seria viável ou não tecnicamente. Diz que os locais para implantação das faixas não estariam definidos, e que o estudo de tais conflitos serviriam como modelo para todo o Brasil. Que antes da implantação, os moradores do bairro seriam consultados, etc.
Milton Jung pergunta para Dona Lygia o que seria feito neste momento por ela e pela Associação dos Moradores e Amigos de Moema. Segundo ela, o que deveria ser feito no momento era conscientizar a população local para não aprovar a ideia. E ela questionou que se as soluções vão servir para a cidade toda, por que estariam usando Moema como cobaia? Disse que Moema já vem sendo castigada há muito tempo, e que eles deveriam fazer experiências em outros bairros.

Questões a se levar em consideração
De um lado temos a opinião de um ciclista militante que acha que os carros devem ser extirpados da face da Terra. Do outro temos umas senhora endinheirada que zela pelo seu bairro e pela "economia" que move sua vizinhança. Faltou temperança na discussão, do meu ponto de vista. André em alguns momentos foi irônico, típico da nossa geração, e Dona Lygia foi intransigente e ranzinza, típico da geração dela.

É necessário alternativas de transporte? É óbvio que sim. O carro é um meio de transporte em franca queda? É sim, senhor. Mas por que isso tem que ser implantado em Moema? Por que eles têm que ser usados como cobaias? Porque não implantar um sistema deste em algum outro bairro vizinho a eles, ou em outra região?
O comércio é importante? É claro que sim. É importante que os moradores do próprio bairro possam circular livremente com seus carros pela própria vizinhança? É, sim, senhor. Mas será que tudo sempre tem que ser visto de um ponto de vista econômico? Será que o ser humano nunca será valorizado em nossa sociedade?

Minhas impressões
Moradores dos bairros mais abastados da cidade, os chamados "bairros nobres" parecem ter ojeriza de gente de outros bairros. Não desejam que essas pessoas inferiores passem pelo seu quintal. Isso sempre acontece quando um projeto de urbanismo que beneficia a população é proposta em bairros como Moema e Morumbi. Se não for render dinheiro pra eles, então que se exploda o resto da população.

Por outro lado, temos os ciclistas que às vezes são meio xiitas. Sua vontade seria andar com uma bazuca destruindo os carros que cruzassem seu caminho. Parece que "a todo custo" é a única forma de se ter algo.
Seria necessário ter uma moderação de ambos os lados para se discutir tudo isso, sem preconceitos ou inconseqüências. Infelizmente, isso está longe de acontecer.

Sobre as bicicletas "terem que passear no lugar delas", Dona Lygia deveria saber que realmente, a maioria das bicicletas de SP são usadas para transporte. Eu mesmo, quando venho de bicicleta ao escritório, passo por Moema, porque é uma alternativa às grandes avenidas. Eu já compartilho a rua com os carros, mas seria bom ter uma norma que salvaguardasse a parte mais frágil na disputa de força no trânsito, no caso os pedestres e ciclistas. Seria interessantes pessoas como a senhora e outros moradores dos bairros nobres saberem que muitos dos "peões" que trabalham para vocês e que tornam suas vidas mais fáceis vão e voltam de bicicleta do serviço, que ter um bairro mais amigável a alternativas de transporte limpas seria uma forma de ajudar indiretamente na qualidade de vida deles próprios. Os moradores teriam menos poluição do ar e sonora, e empregados satisfeitos pois não têm que passar pelo estresse de disputar a rua com carros em pé de desigualdade.

Contudo, não se conseguirá enfiar os conceitos de civilidade responsável goela abaixo dos moradores dos bairros que seriam, no meu ponto de vista, privilegiados com ciclofaixas da forma como os ativistas do ciclismo parece que querem fazer. Eles precisam ser doutrinados a entender o real sentido das coisas, que se continuarem preocupados apenas com o lado comercial das coisas, uma hora vão se dar mal, e serão engolidos pelo próprio sistema que alimentam.

E você, o que acha? Deixe sua opinião nos comentários.

2 comentários:

  1. Aqui de São José dos Campos ficamos animados com essa experiência, muito positiva, que seria também a solução para o nosso mini caos urbano. Temos várias ciclovias mas elas não são integradas. Principalmente no centro da cidade, áreas parecidas com Moema.

    Achei que o André manteve o nível do discurso, foi educado e bem técnico, a Idéia do CicloBR é muito boa, ninguém ali é xiita. Os xiitas fazem um barulho desproporcional, a maioria da massa é apenas gente como a gente.

    Outra coisa, a Dona Lygia apelou, talvez despreparo, talvez arrogância, ou apenas nervosismo, não sei pq, mas não foi educada. Será que ela é nova rica e não estudou num bom colégio? :P hehehe

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  2. Oi, Tom Bike.

    Realmente, sei que muitos não são xiitas. Mas a imagem que muita gente acaba tendo é essa. Ciclistas com roupas coloridas e coladas ao corpo meio que assustam os outros. Claro que não estou querendo justificar a população. Estou falando apenas do que ouço por aqui. Ouço o que minha esposa diz, e o que vários colegas do escritório também dizem. Infelizmente, tudo é muito polarizado, maniqueísta demais.

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